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segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

COMENTÁRIO 2 (Artigo 2º da Lei 14.133/21)

COMENTÁRIO 2 (Artigo 2º da Lei 14.133/21)

Lei Comentada

LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021

Lei de Licitações e Contratos Administrativos

 

TÍTULO I

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

CAPÍTULO I

DO ÂMBITO DE APLICAÇÃO DESTA LEI

Art. 2º Esta Lei aplica-se a:

I - alienação e concessão de direito real de uso de bens;

II - compra, inclusive por encomenda;

III - locação;

IV - concessão e permissão de uso de bens públicos;

V - prestação de serviços, inclusive os técnico-profissionais especializados;

VI - obras e serviços de arquitetura e engenharia;

VII - contratações de tecnologia da informação e de comunicação.

Comentários:

Alienar é transferir a propriedade de um bem a outrem.

Se a administração pretende alienar um bem público IMÓVEL (terreno) ou MÓVEL (veículo, etc.) inservível ou que foi legalmente apreendido deve-se valer, conforme define o inciso XL do artigo 6º e o Art. 76 ambos da Nova Lei, da modalidade de licitação denominada leilão.

Concessão de direito real de uso – contrato no qual a Administração Pública transfere o uso remunerado ou gratuito de um bem público a particular, como direito real por tempo certo, ou sob condição, para que dele se utilize para determinadas finalidades. É direito de apenas usar.

Ex: Cessão de uso de uma área num órgão público para que um particular a explore vendendo almoço (restaurante) aos servidores e usuários dos serviços desse órgão.

Neste caso, qual seria a modalidade de licitação a ser utilizada? A Nova Lei não sugere, mas temos alguns acórdãos do TCU que podem nos orientar. Vejamos:

Acórdão 2844/2010 – Plenário | Relator Walton Alencar Rodrigues.

É cabível a utilização do pregão para concessões de uso de áreas comerciais em aeroportos, sendo considerada indevida a aplicação da lei de concessões, uma vez que o objeto licitado não é delegação de serviço público.

Acórdão 2050/2014 – Plenário | Relator Walton Alencar Rodrigues

É recomendável a utilização de pregão para a concessão remunerada de uso de bens públicos.

Acórdão 478/2016 – Plenário | Relator Marcos Bemquerer

Em regra, o pregão é a modalidade de licitação adequada para a concessão remunerada de uso de bens públicos, com critério de julgamento pela maior oferta em lances sucessivos.

O relator observou que,

“a jurisprudência deste Tribunal é no sentido de que a modalidade de licitação que melhor se coaduna à situação em tela é a realização de pregão, não devendo o órgão se valer, indevidamente, de certames na modalidade convite para aquisição de bens e serviços comuns, por se tratar de um meio que permite viabilizar o direcionamento dos resultados nesses certames licitatórios”.

Acórdão 919/2016 – Plenário | Relator Vital do Rêgo

A cessão das áreas comerciais de centrais públicas de abastecimento de gêneros alimentícios deve observar as normas atinentes à concessão remunerada de uso de bem público, utilizando-se na licitação, preferencialmente, a modalidade pregão eletrônico.

Comentário ao inciso II - compra, inclusive por encomenda;

Comentário: este inciso precisa ser interpretado pelo Tribunal de Contas da União para não se cometerem equívocos.

O que o legislador quis dizer ao se referir à “compra, inclusive por encomenda”?

Se ele quisesse se referir às compras normais e corriqueiras das repartições públicas, previstas na Lei 8.666/93, ele se limitaria a cunhar o termo “compra”. Por que acentuou “inclusive por encomenda”?

No nosso dia a dia, a nosso ver, podemos realizar uma compra por encomenda de três maneiras: a primeira seria feita quando nos dirigíssemos a, por exemplo, uma loja de roupa e o vendedor nos informasse que a quantidade solicitada de camisa, por exemplo, não estava disponível no estoque. Assim, encomendaríamos a compra das camisas (material de consumo) e pagaríamos quando recebêssemos o produto e a nota fiscal. A nota Fiscal a ser emitida seria a de consumo. Sobre ela, incidiria o ICMS.

A segunda maneira, seria quando a quantidade que solicitamos estivesse disponível, mas o tamanho de camisa que pedimos estava esgotado. Neste caso, é de se notar que o produto que desejamos é comum naquela loja. Não seria o caso de confeccionar um produto exclusivo para nos vender. Bastaria encomendarmos a compra das camisas no tamanho desejado (material de consumo) e pagaríamos quando recebêssemos o produto e a nota fiscal. A nota Fiscal a ser emitida seria a de consumo. Sobre ela, incidiria o ICMS.

E a terceira, seria se o tamanho e a própria camisa que pedimos nunca tivesse sido vendida naquela loja, mas o vendedor teria informado que poderíamos encomendar a confecção, a customização da camisa do jeito e no tamanho que quiséssemos. Neste caso, na praxe administrativa, ENCOMENDARÍAMOS um serviço de confecção das camisas. Essa encomenda seria classificada como um SERVIÇO e não a COMPRA de um material de consumo. Quando recebêssemos o serviço e a nota fiscal de serviço efetuaríamos o pagamento.  Sobre ela, incidiria o ISSQN.

A qual das três situações o legislador se referiu?

Ora, isso de encomendar um produto comum, pronto e acabado já acontecia implicitamente no serviço público, na vigência da “antiga” lei. Ou alguém vai acreditar que poderíamos pegar numa prateleira dez mil canetas, cinco mil lápis, vinte mil resmas de papel, cinco mil desktops? Então, a primeira hipótese e a segunda não parecem fazer sentido.

A terceira hipótese de compra por encomenda, e que nos parece ser aquela que o legislador tinha em mente é o da customização de um produto que antes realizávamos contabilmente como um serviço de confecção.

Assim, a Nova Lei prevê que o antigo serviço de confecção ou customização se trata agora de uma COMPRA POR EMCOMENDA e contabilmente não será classificada como um serviço.

Comentário ao inciso III - locação;

Comentário: aqui, destacamos a locação de um bem imóvel de particular para uso de uma repartição pública.

A locação de imóvel tratada no inciso X do Art. 24 da Lei 8.666/93, era uma das hipóteses de Dispensa de Licitação. A novidade é que agora ela está prevista no inciso V do Artigo 74 da Nova Lei de Licitações e é uma das hipóteses de INEXIGIBILIDADE de licitação quando as características de instalações e de localização tornem necessária a locação de determinado imóvel. É quando determinado imóvel, pelas suas características de instalações e de localização tornem inviável a competição. É aquele e somente aquele imóvel que poderá abrigar os serviços do órgão.

No geral, a locação de imóvel está prevista no Artigo 51 da Nova Lei de Licitação com uma ressalva: o supracitado inciso V do artigo 74. No mais, para se realizar uma locação de imóvel, em que a Administração é locatária (inquilino), é necessário um prévio processo licitatório para a escolha do bem, prévia avaliação do bem, do seu estado de conservação, dos custos de adaptação de suas instalações e do prazo de amortização dos investimentos necessários.

LOCAÇÃO DE IMÓVEIS NA MODALIDADE built to suit (aluguel sob medida) em terrenos da União:

a) se o terreno é da União, deve ser feita por meio de LICITAÇÃO. Trata-se da construção, sob medida, de edifícios, EM TERRENO DA UNIÃO, por terceiros investidores, em que o órgão licitante pagará um aluguel, por prazo certo, com reversão das edificações para a proprietária (o órgão público federal) após o esgotamento do prazo contratual.

b) se o terreno não é da União, neste caso, entendemos que, por analogia, cabe também a inexigibilidade de licitação prevista no artigo 74 da Nova Lei. Vejamos o Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário:

9.2. responder ao nobre Presidente do Conselho Superior da Justiça do Trabalho que, nos termos do art. 62, § 3º, I, da Lei nº 8.666/1993 c/c o art. 54-A da Lei nº 8.245/1991 (incluído pela Lei nº 12.744, de 19 de dezembro de 2012), a despeito de a realização de licitação dever ser a regra, admite-se excepcionalmente a contratação direta de locação sob medida (operação built to suit), por meio de licitação dispensável fundada no art. 24, inciso X, da Lei nº 8.666/1993, desde que, além da observância das demais disposições legais aplicáveis ao caso, o terreno onde será construído o imóvel seja de propriedade do particular que será o futuro locador.

A Nova Lei de Licitação nas alíneas “f” e “g” do inciso I do artigo 76, também traz explicitamente a possibilidade de a Administração ser locadora de imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente usados em programas de habitação ou de regularização fundiária de interesse social e imóveis comerciais de âmbito local, com área de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) e destinados a programas de regularização fundiária de interesse social desenvolvidos por órgão ou entidade da Administração Pública. São casos de LICITAÇÃO DISPENSADA.

Comentário ao inciso IV - concessão e permissão de uso de bens públicos;

Comentário: a Nova Lei será aplicada na concessão de uso de bem público e na permissão de uso de bem público.

Concessão de Uso: contrato administrativo firmado por entidade ou órgão da Administração atribuindo ao particular o uso privativo de bem público.

Exemplo: lojas em mercados públicos, áreas em órgãos para montagem de restaurante, etc.

Permissão de Uso: ato administrativo precário (precário: ato que pode ser revogado a qualquer momento sem que gere direito adquirido ao destinatário. Não implicam em direito a indenização), ou seja, revogável a qualquer tempo, discricionário, isto é, depende da vontade da Administração, e unilateral onde a Administração permite que o particular se utilize de bem público.

Exemplo: uso de um auditório de um órgão público, bancas de revistas, feiras livres, etc.

Aproveitaremos a definição de permissão de uso para, de forma sucinta, comentar sobre os atos administrativos.

Segundo Hely Lopes Meirelles: "Ato administrativo é toda manifestação unilateral de vontade da Administração Pública que, agindo nessa qualidade, tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor obrigações aos administrados ou a si própria".

São necessários para a formação do ato a verificação de cinco elementos. Sem a existência deles, não se aperfeiçoa o ato administrativo e sem esses elementos o ato não tem condições de eficácia para produzir efeitos válidos. São eles:

Competência: o ato deve ser praticado por alguém competente para tal. Por competência, entenda-se o poder legalmente atribuído a um agente público para a realização do ato. A competência é um elemento VINCULADO do ato, isto é, decorre de lei, está vinculado a uma lei. Não existe competência para a realização de algo que não esteja legalmente previsto em lei. A competência é irrenunciável e intransferível, mas pode ser delegada ou avocada, conforme previsão legal dos artigos 11 a 17 da Lei do Processo Administrativo Federal – Lei n. 9.784/99);

Finalidade: todo ato, para ser considerado válido, só pode ter por finalidade o atingimento do interesse público.

Forma: é a maneira como o ato se manifesta no mundo exterior. E essa exteriorização necessariamente estará prevista em lei. A regra geral é que o ato se exteriorize de forma escrita. A Lei n. 9.784/99, estabelece a forma escrita como a regra geral da exteriorização do ato administrativos (art. 22, § 1º).

O §2º do Art. 95 da Nova Lei de Licitações afirma que,

§ 2º É nulo e de nenhum efeito o contrato verbal com a Administração, salvo o de pequenas compras ou o de prestação de serviços de pronto pagamento, assim entendidos aqueles de valor não superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Eis que temos, no supracitado parágrafo, um claro exemplo de ato cuja forma admitida pode ser a verbal, desde que se cumpram os requisitos citados. Trata-se da conhecida, nas repartições públicas, Concessão de suprimento de fundos.

O suprimento de fundos está previsto nos artigos 68 e 69 da Lei nº 4.320/1964 e deve ser usado para as despesas de pequeno vulto e pronto pagamento que não possam aguardar o tempo de realização de um processo licitatório.

Motivo: é a ocasião de fato e de direito que autoriza ou exige a prática do ato administrativo. Pode estar previsto em lei ou não.

A lei não pode prevê todos os motivos para a prática do ato. O agente público deve motivar, isto é, expor os motivos que o levaram a prática de determinado ato. Depois de sua motivação, a veracidade do motivo passa a ser condição de validade do ato.

Objeto: é a alteração que o ato realiza no mundo jurídico. Esse elemento do ato pode ser vinculado ou discricionário.

Comentários ao inciso V - prestação de serviços, inclusive os técnico-profissionais especializados;

 

Comentário: os serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual definidos no inciso XVIII do art. 6º não podem ser licitados por pregão. A modalidade de licitação adequada é a CONCORRÊNCIA e o julgamento será o de MELHOR TÉCNICA ou TECNICA E PREÇO.

O julgamento por técnica e preço considerará a maior pontuação obtida a partir da ponderação, segundo fatores objetivos previstos no edital, das notas atribuídas aos aspectos de técnica e de preço da proposta.

Esse critério de técnica e preço será adotado PREFERENCIALMENTE quando os estudos técnicos preliminares demonstrarem que a avaliação e a ponderação da qualidade técnica das propostas que superarem os requisitos mínimos estabelecidos no edital forem relevantes aos fins pretendidos pela Administração nas licitações para contratação de serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual. (Inc. I do §1º do artigo 36).

Nos casos em que a competição seja INVIÁVEL, o Art. 74, em seu inciso 3º, prevê a contratação de serviços técnicos especializados por inexigibilidade de licitação. Trata-se de hipótese de CONTRATAÇÃO DIRETA.

Conforme artigo 93, nas contratações de serviços técnicos especializados, inclusive aqueles de desenvolvimento de programas e aplicações de internet e a respectiva documentação técnica associada, o autor deverá ceder todos os direitos patrimoniais a eles relativos para a Administração e esta poderá alterar e utilizar livremente em outras situações, sem necessidade de autorização de seu autor.

VI - obras e serviços de arquitetura e engenharia;

VII - contratações de tecnologia da informação e de comunicação.

Comentário: nota-se que não está no campo de atuação da Nova Lei os serviços de publicidade. Tais serviços possuem lei própria e se utilizarão da Lei 14.133/21 de forma subsidiária. A Lei que disciplina os serviços de publicidade é a Lei 12.232 de abril de 2010.

Sempre que qualquer norma nacional expressamente faça referência à Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, à Lei nº 10.520, de 17 de julho de 2002, e aos arts. 1º a 47-A da Lei nº 12.462, de 4 de agosto de 2011, então deve-se aplicar a Nova Lei de Licitações.

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

 

1. Existe amparo legal à utilização do modelo de locação sob medida, built to suit, em terrenos da União, sendo obrigatória a reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato, hipótese em que se fazem necessários o procedimento licitatório, a concessão do direito de superfície ao eventual vencedor do certame e o atendimento às demais exigências dispostas no Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário.

Em consulta formulada ao TCU acerca da legalidade de contratos administrativos de locação de imóveis na modalidade built to suit (aluguel sob medida) em terrenos da União, o Presidente do Conselho da Justiça Federal manifestou-se nos seguintes termos: “consulto esse Órgão sobre a possibilidade de a Justiça Federal deflagrar procedimento licitatório a fim de selecionar a melhor proposta com vistas à construção, sob medida, de edifícios, por terceiros investidores, em terrenos pertencentes à União, seguida de locação por prazo determinado, com reversão das edificações para a proprietária após o esgotamento do prazo contratual. Trata-se, em verdade, de modalidade que se operacionaliza através da cessão do direito de superfície de terreno da União a terceiro, por tempo certo, com a contrapartida de obtenção de sedes próprias sem a necessidade de realização direta das obras necessárias” (grifos do relator). Em seu voto, o relator pontuou, preliminarmente, que a legalidade dos contratos de locação de imóveis sob modelo built to suit já fora reconhecida pelo TCU, a exemplo dos Acórdãos 1301/2013-Plenário e 1928/2021-Plenário. Em reforço, assinalou que o procedimento em tela possui amparo na interpretação sistemática do ordenamento jurídico aplicável à espécie, com destaque para os seguintes dispositivos: art. 47-A da Lei 12.462/2011 (“locações no modelo built to suit na Administração Pública, vigente até 30/12/2023, nos termos do art. 191 c/c art. 193, inciso II, da Lei 14.133/2021”), art. 51 da Lei 14.133/2021 (“locação de bens imóveis na nova Lei de Licitações”) e art. 54-A da Lei 8.245/1991 (“locações no modelo built to suit no âmbito privado, aplicável aos contratos administrativos, por analogia, nos termos do art. 89 da Lei 14.133/2021, após a revogação do art. 47-A da Lei 12.462/2011, prevista no art. 193, inciso II, da Lei 14.133/2021”). Na sequência, chamou a atenção para a obrigatoriedade da reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato de locação built to suit quando se tratar de imóvel em terreno da União, justamente por envolver “construção ou reforma em próprio nacional”. Também frisou que a regra da licitação incide na espécie, não sendo cabível o seu enquadramento na hipótese de inexigibilidade prevista no art. 74, inciso V, da Lei 14.133/2021 (“aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem necessária sua escolha”), isso porque, no caso em apreço, “a localização do imóvel já está decidida pela Administração, pois se trata de terreno ou imóvel próprio, cabendo selecionar junto ao mercado, entre vários potenciais licitantes, quem oferecerá a melhor proposta para a reforma ou construção destinada ao contrato de aluguel”. De acordo com o relator, essa dicção já fora acolhida na resposta à consulta objeto do mencionado Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário, nos seguintes termos: “9.2. responder ao nobre Presidente do Conselho Superior da Justiça do Trabalho que, nos termos do art. 62, § 3º, I, da Lei nº 8.666/1993 c/c o art. 54-A da Lei nº 8.245/1991 (incluído pela Lei nº 12.744, de 19 de dezembro de 2012), a despeito de a realização de licitação dever ser a regra, admite-se excepcionalmente a contratação direta de locação sob medida (operação built to suit), por meio de licitação dispensável fundada no art. 24, inciso X, da Lei nº 8.666/1993, desde que, além da observância das demais disposições legais aplicáveis ao caso, o terreno onde será construído o imóvel seja de propriedade do particular que será o futuro locador.” (grifos no original). Ao final, quanto ao cerne da consulta, o relator propôs e o Plenário decidiu responder ao consulente que “existe amparo legal à utilização do modelo de locação sob medida, built to suit, em terrenos da União, sendo obrigatória a reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato, hipótese em que se fazem necessários o procedimento licitatório, a concessão do direito de superfície ao eventual vencedor do certame e o atendimento às demais exigências dispostas no Acórdão 1.301/2013-TCU-Plenário”.

Acórdão 755/2023 Plenário, Consulta, Relator Ministro Antonio Anastasia.

 

Caros pregoeiros e licitantes, a melhor fonte de conhecimento sobre licitações se chama TCU - Tribunal de Contas da União. Leiam atentamente os acórdãos do TCU, pois eles trazem ensinamentos e recomendações importantíssimos, e tenham a certeza de estarem realizando um grande serviço à sociedade.

Obrigado por ter lido este artigo. Se gostou, você pode ir para o comentário número 1, Artigo 1º da Lei 14.133/21.

COMENTARIO 1

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domingo, 13 de novembro de 2022

COMENTÁRIO 74 (Artigo 74 da Lei 14.133/21)

 

COMENTÁRIO 74 (Artigo 74 da Lei 14.133/21)

Lei Comentada

LEI Nº 14.133, DE 1º DE ABRIL DE 2021

Lei de Licitações e Contratos Administrativos

Seção II

Da Inexigibilidade de Licitação

Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a competição, em especial nos casos de:

I - aquisição de materiais, de equipamentos ou de gêneros ou contratação de serviços que só possam ser fornecidos por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos;

II - contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública;

III - contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação:

a) estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos;

b) pareceres, perícias e avaliações em geral;

c) assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;

d) fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;

e) patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;

f) treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;

g) restauração de obras de arte e de bens de valor histórico;

h) controles de qualidade e tecnológico, análises, testes e ensaios de campo e laboratoriais, instrumentação e monitoramento de parâmetros específicos de obras e do meio ambiente e demais serviços de engenharia que se enquadrem no disposto neste inciso;

IV - objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento;

V - aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem necessária sua escolha.

§ 1º Para fins do disposto no inciso I do caput deste artigo, a Administração deverá demonstrar a inviabilidade de competição mediante atestado de exclusividade, contrato de exclusividade, declaração do fabricante ou outro documento idôneo capaz de comprovar que o objeto é fornecido ou prestado por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos, vedada a preferência por marca específica.

§ 2º Para fins do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se empresário exclusivo a pessoa física ou jurídica que possua contrato, declaração, carta ou outro documento que ateste a exclusividade permanente e contínua de representação, no País ou em Estado específico, do profissional do setor artístico, afastada a possibilidade de contratação direta por inexigibilidade por meio de empresário com representação restrita a evento ou local específico.

§ 3º Para fins do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se de notória especialização o profissional ou a empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiência, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica ou outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e reconhecidamente adequado à plena satisfação do objeto do contrato.

§ 4º Nas contratações com fundamento no inciso III do caput deste artigo, é vedada a subcontratação de empresas ou a atuação de profissionais distintos daqueles que tenham justificado a inexigibilidade.

§ 5º Nas contratações com fundamento no inciso V do caput deste artigo, devem ser observados os seguintes requisitos:

I - avaliação prévia do bem, do seu estado de conservação, dos custos de adaptações, quando imprescindíveis às necessidades de utilização, e do prazo de amortização dos investimentos;

II - certificação da inexistência de imóveis públicos vagos e disponíveis que atendam ao objeto;

III - justificativas que demonstrem a singularidade do imóvel a ser comprado ou locado pela Administração e que evidenciem vantagem para ela.

Comentários:

Essa lista do artigo 74 é meramente exemplificativa. Notemos que o artigo diz: “em especial”.

É inexigível, ou seja, a lei não exige que o gestor promova licitação quando houver inviabilidade de competição especialmente nos casos previstos pela própria lei.

Quando a Administração pretende comprar algum material, algum equipamento ou contratar um serviço e esse serviço só possa ser executado por um único fornecedor ou os materiais que se pretende adquirir só possam ser fornecidos por um único produtor, uma única empresa ou representante comercial exclusivo, eis aí casos de inexigibilidade de licitação.

A Administração deverá demonstrar a inviabilidade de competição mediante atestado de exclusividade, contrato de exclusividade, declaração do fabricante ou outro documento idôneo capaz de comprovar que o objeto é fornecido ou prestado por produtor, empresa ou representante comercial exclusivos, vedada a preferência por marca específica. Notemos que a lei não se refere à “exclusividade” em uma determinada localidade ou à exclusividade de determinada marca. Logo, a exclusividade deve ser no território nacional. E se no Brasil há determinada marca onde apenas um fornecedor detém a exclusividade no fornecimento, então a Administração não pode preferir essa marca em detrimento de outras que podem servir à Administração.

O § 4º do artigo 23 da Nova Lei, estabelece que nas contratações diretas por inexigibilidade ou por dispensa, quando não for possível estimar o valor do objeto na forma estabelecida nos §§ 1º, 2º e 3º do artigo 23 da Nova Lei (pesquisas de preços), o contratado deverá comprovar previamente que os preços estão em conformidade com os praticados em contratações semelhantes de objetos de mesma natureza, por meio da apresentação de notas fiscais emitidas para outros contratantes no período de até 1 (um) ano anterior à data da contratação pela Administração, ou por outro meio idôneo.

Também é hipótese de inexigibilidade a contratação de profissional do setor artístico, diretamente ou por meio de empresário exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.

Podemos elencar duas características nessa contratação de profissional do setor artístico:

1 - Celebra-se o contrato diretamente com o artista consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública;

2 - Celebra-se o contrato desse mesmo artista com o seu único, exclusivo empresário. É claro que o preço cobrado tem que ser o de mercado.

Considera-se empresário exclusivo a pessoa física ou jurídica que possua contrato, declaração, carta ou outro documento que ateste a exclusividade permanente e contínua de representação, no País ou em Estado específico, do profissional do setor artístico, afastada a possibilidade de contratação direta por inexigibilidade por meio de empresário com representação restrita a evento ou local específico.

A jurisprudência do TCU traz importante diferenciação entre uma esporádica representação “exclusiva” do artista para determinados eventos e a representação exclusiva que presume uma continuidade temporal:

(...) o contrato celebrado entre o artista e seu empresário exclusivo é exigido para legitimar a intermediação deste. O contrato de exclusividade deverá ser registrado em cartório e não se confunde com a autorização que confere exclusividade apenas para os dias correspondentes à apresentação do artista e que é restrita à localidade do evento. No caso de o artista não possuir contrato com empresário exclusivo nos moldes exigidos pelo TCU, a contratação deverá ser feita diretamente entre o convenente e o artista, sem a intermediação de um empresário. (Processo nº TC 016.324/2009-3, Relator: Ministro-Substituto André Luís de Carvalho, Data da Sessão: 5/4/2011, 2ª Câmara)

No inciso III do art. 74 da Nova Lei o requisito da singularidade do serviço foi eliminado, devendo ser demonstrada a notória especialização do agente contratado e a natureza intelectual do trabalho a ser prestado. Esse inciso vem, a meu ver, ao encontro da jurisprudência do TCU que dispensou esse requisito da singularidade por entender, conforme trecho do relatório que resultou no Acórdão 1.074/2013 – Plenário, que,

“(...) o conceito de singularidade não está vinculado à ideia de unicidade. Para fins de subsunção ao art. 25, inciso II, da Lei 8.666/93, entendo não existir um serviço que possa ser prestado apenas e exclusivamente por uma única pessoa. A existência de um único sujeito em condições de ser contratado conduziria à inviabilidade de competição em relação a qualquer serviço e não apenas em relação àqueles considerados técnicos profissionais especializados, o que tornaria letra morta o dispositivo legal.” “Em segundo lugar, porque singularidade, a meu ver, significa complexidade e especificidade. Dessa forma, a natureza singular não deve ser compreendida como ausência de pluralidade de sujeitos em condições de executar o objeto, mas sim como uma situação diferenciada e sofisticada a exigir acentuado nível de segurança e cuidado.” Acórdão 1074/2013-Plenário, TC 024.405/2007-1, relator Ministro Benjamin Zymler, 8.5.2013.

Assim, a Nova Lei, eliminando a característica da singularidade prevista no art. 25, inciso II, da Lei 8.666/93, dispôs que seria inexigível a,

(...) contratação dos seguintes serviços técnicos especializados de natureza predominantemente intelectual com profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e divulgação...

 

No inciso IV do art. 74, a Nova Lei estabelece que o CREDENCIAMENTO é uma hipótese de inexigibilidade de licitação.

A respeito do credenciamento, apresentaremos aqui importante artigo de Tayná Bueno Macieira, “Credenciamento de Prestadores na Administração Pública” cujo endereço é:

https://www.conjur.com.br/2022-jul-05/tayna-macieira-credenciamento-prestadores#:~:text=J%C3%A1%20a%20Lei%20n%C2%BA%2014.133,contratados%20por%20meio%20de%20credenciamento%22.

Em princípio, o sistema de credenciamento é um conjunto de dispositivos necessários para administração credenciar todos os prestadores aptos e interessados para o fornecimento de produtos, bens e serviços. Da mesma forma, se faz necessário o credenciamento quando o interesse público for melhor atendido com a contratação do maior número possível de prestadores simultâneos, e a convocação é feita mediante chamamento público.

A Lei n° 14.133/2021 contemplou o instituto do credenciamento conceituando-o em seu artigo 6°, XLIIl como: "processo administrativo de chamamento público em que a Administração Pública convoca interessados em prestar serviços ou fornecer bens para que, preenchidos os requisitos necessários, se credenciem no órgão ou na entidade para executar o objeto quando convocados".

A respeito do tema, leciona Malheiros como:

"O procedimento administrativo pelo qual a administração convoca todos os interessados em com ela travar contratos, desde que satisfeitos os requisitos previamente estipulados, haja vista a inviabilidade de competição em determinado setor" (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 566).

Coerente com esse entendimento Zancaner, por sua vez, elucida:

"Credenciamento é um termo vago pelo qual se designam diferentes atos administrativos ampliativos da esfera jurídica dos particulares, pelos quais ora se habilita alguém à prática de ato de ofício público (caso do tradutor juramentado) ora à prestação de serviço público (caso do médico credenciado) ou de serviço social (credenciamento de Universidade) ora à prática de ato material preparatório da prática de ato de polícia (credenciamento de empresa para aferir o bom ou mau estado de um veículo automotor) ora à designação para auxiliar, na condição de aprendiz, trabalhos jurídicos estatais" (ZANCANER, Weida. Congresso Brasileiro de Direito Administrativo, XXII, 2008, Brasília, DF, apud MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32ª ed. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 455).

Frise, por oportuno, que a Lei nº 8.666/1993 não trata expressamente da hipótese de credenciamento. Já a Lei nº 14.133/2021 trouxe como uma das inovações a previsão no inciso IV do artigo 74, reconhecendo a inexigibilidade "para objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento".

É certo que essa hipótese de contratação direta traz a inexigibilidade, ante nítida inviabilidade jurídica de competição, já que a administração pode contratar após o período de convocação estabelecido, todos os interessados que aceitarem o preço pré-definido e satisfizerem as condições exigidas no instrumento convocatório. Ademais, não há limite de contratados, aliás, a administração pública é obrigada a contratar todos os que atenderem as exigências editalícias.

Outrossim, no disposto no artigo 74, inciso IV ao dispor que é inexigível a licitação nos casos de objetos que devam ou possam ser contratados por meio de credenciamento, nos leva a concluir que o credenciamento pode ser utilizado tanto para o fornecimento de bens e serviços.

O credenciamento exclui o procedimento licitatório conforme artigo 37, inciso XXI da Constituição:

"Art. 37— A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações." (Regulamento).

Em suma, a entidade pública só poderá adotar esse sistema se demonstrar que o interesse público meramente será atendido, caso seja realizada a contratação do maior número possível de particulares.

Quanto às hipóteses de cabimento da modalidade estão elencadas nos incisos do artigo 79 da Lei n° 14.133/2021, vejamos:

I - paralela e não excludente: caso em que é viável e vantajosa para a Administração a realização de contratações simultâneas em condições padronizadas;

II com seleção a critério de terceiros: caso em que a seleção do contratado está a cargo do beneficiário direto da prestação;

III - em mercados fluídos: caso em que a flutuação constante do valor da prestação e das condições de contratação inviabiliza a seleção de agente por meio de processo de licitação.

Ressalta o artigo 79, em seu parágrafo único, V, que na modalidade credenciamento é vedada subcontratação do objeto contratado sem autorização expressa da administração pública, consequentemente afirma o sentido do caráter "intuitu personae" das entidades credenciadas.

Ante o exposto, podemos observar que tal modalidade traz algumas praticidades à administração pública ao desburocratizar muitas de suas ações, fazendo com que ocorra o desafogamento dos procedimentos licitatórios.

De certo, além de ser prática e viável economicamente ao erário, pelo valor a ser pago pela prestação do serviço já está previamente estabelecido pelo próprio poder público, trazendo muitos benefícios como: abertura maior para que potenciais fornecedores sejam contratados pela administração pública, bem como traz uma vantagem de celeridade, economia de tempo e dos recursos públicos.  

Não é outro o entendimento colhido na seara jurisprudencial, o Tribunal de Contas da União reconheceu as vantagens auferidas, conforme se infere do julgado abaixo citado:

"[…] no sistema de credenciamento, quando realizado com a devida cautela, assegurado tratamento isonômico aos interessados na prestação dos serviços e negociando-se as condições de atendimento, obtém-se uma melhor qualidade dos serviços além do menor preço, podendo ser adotado sem licitação, amparado no art. 25 da Lei nº 8.666/93" (Decisão 104/95 — Plenário).

Vejamos, nesse passo, alguns julgados acerca da quaestio iuris:

O credenciamento é hipótese de inviabilidade de competição não expressamente mencionada no artigo 25 da Lei 8.666/1993 (cujos incisos são meramente exemplificativos). Adota-se o credenciamento quando a administração tem por objetivo dispor da maior rede possível de prestadores de serviços. Nessa situação, a inviabilidade de competição não decorre da ausência de possibilidade de competição, mas sim da ausência de interesse da Administração em restringir o número de contratados (Acórdão 3.567/2014-Plenário, revisor: ministro Benjamin Zymler;)

O credenciamento pode ser considerado como hipótese de inviabilidade de competição quando observados requisitos como: 1) contratação de todos os que tiverem interesse e que satisfaçam as condições fixadas pela Administração, não havendo relação de exclusão; 2) garantia de igualdade de condições entre todos os interessados hábeis a contratar com a administração, pelo preço por ela definido; 3) demonstração inequívoca de que as necessidades da administração somente poderão ser atendidas dessa forma. (Acórdão 2.504/2017- 1ª Câmara, relator: ministro-substituto Augusto Sherman;)

Por fim, podemos concluir que o credenciamento vem sendo cada vez mais frequente. É imprescindível observar certos critérios, pois o credenciamento só tem lugar nas hipóteses em que não houver relação de exclusão, evitando assim a possibilidade do credenciamento ser utilizado erroneamente pela administração pública para se ver livre dos rigores do procedimento de licitação pública.

 

No inciso V do art. 74, a Nova Lei trata da aquisição ou locação de imóvel por inexigibilidade quando as características de instalações e de localização de determinado imóvel tornem necessária sua escolha. Aqui, destacamos a locação um bem imóvel de particular para uso de uma repartição pública.

A locação de imóvel tratada no inciso X do Art. 24 da Lei 8.666/93, era uma das hipóteses de Dispensa de Licitação. A novidade é que agora ela está prevista no inciso V do Artigo 74 da Nova Lei de Licitações e é uma das hipóteses de INEXIGIBILIDADE de licitação quando as características de instalações e de localização tornem necessária a locação de determinado imóvel. É quando determinado imóvel, pelas suas características de instalações e de localização tornem inviável a competição. É aquele e somente aquele imóvel que poderá abrigar os serviços do órgão.

No geral, a locação de imóvel está prevista no Artigo 51 da Nova Lei de Licitação com uma ressalva: o supracitado inciso V.

No mais, para se realizar uma locação de imóvel, em que a Administração é locatária (inquilino), é necessário um prévio processo licitatório para a escolha do bem, prévia avaliação do bem, do seu estado de conservação, dos custos de adaptação de suas instalações e do prazo de amortização dos investimentos necessários.

locação de imóveis na modalidade built to suit (aluguel sob medida) em terrenos da União:

a) Se o terreno é da União, deve ser feita por meio de LICITAÇÃO. Trata-se da construção, sob medida, de edifícios, EM TERRENO DA UNIÃO, por terceiros investidores, em que o órgão licitante pagará um aluguel, por prazo certo, com reversão das edificações para a proprietária (o órgão público federal) após o esgotamento do prazo contratual.

b) se o terreno não é da União, neste caso, entendemos que, por analogia, cabe também a inexigibilidade de licitação prevista no artigo 74 da Nova Lei. Vejamos o Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário:

9.2. responder ao nobre Presidente do Conselho Superior da Justiça do Trabalho que, nos termos do art. 62, § 3º, I, da Lei nº 8.666/1993 c/c o art. 54-A da Lei nº 8.245/1991 (incluído pela Lei nº 12.744, de 19 de dezembro de 2012), a despeito de a realização de licitação dever ser a regra, admite-se excepcionalmente a contratação direta de locação sob medida (operação built to suit), por meio de licitação dispensável fundada no art. 24, inciso X, da Lei nº 8.666/1993, desde que, além da observância das demais disposições legais aplicáveis ao caso, o terreno onde será construído o imóvel seja de propriedade do particular que será o futuro locador.

Sobre as CONTRATAÇÕES DIRETAS, VEJAMOS a Orientação Normativa AGU nº 69/2021:

– Não é obrigatória manifestação jurídica nas contratações diretas por dispensa de licitação em razão do valor com fundamento no art. 75, I ou II, e § 3º da Lei nº 14.133/2021;

– Não é obrigatória manifestação jurídica nas contratações diretas por dispensa de licitação com base no art. 75, incisos III e seguintes da Lei nº 14.133/2021, desde que o valor praticado observe os limites estabelecidos no art. 75, inciso I ou II da citada lei, conforme o caso;

– Não é obrigatória manifestação jurídica nas contratações diretas por inexigibilidade de licitação com base no art. 74 da Lei nº 14.133/2021, desde que o valor praticado observe os limites estabelecidos no art. 75, inciso I ou II da citada lei, conforme o caso.

JURISPRUDÊNCIA DO TCU

 

1. Existe amparo legal à utilização do modelo de locação sob medida, built to suit, em terrenos da União, sendo obrigatória a reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato, hipótese em que se fazem necessários o procedimento licitatório, a concessão do direito de superfície ao eventual vencedor do certame e o atendimento às demais exigências dispostas no Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário.

Em consulta formulada ao TCU acerca da legalidade de contratos administrativos de locação de imóveis na modalidade built to suit (aluguel sob medida) em terrenos da União, o Presidente do Conselho da Justiça Federal manifestou-se nos seguintes termos: “consulto esse Órgão sobre a possibilidade de a Justiça Federal deflagrar procedimento licitatório a fim de selecionar a melhor proposta com vistas à construção, sob medida, de edifícios, por terceiros investidores, em terrenos pertencentes à União, seguida de locação por prazo determinado, com reversão das edificações para a proprietária após o esgotamento do prazo contratual. Trata-se, em verdade, de modalidade que se operacionaliza através da cessão do direito de superfície de terreno da União a terceiro, por tempo certo, com a contrapartida de obtenção de sedes próprias sem a necessidade de realização direta das obras necessárias” (grifos do relator). Em seu voto, o relator pontuou, preliminarmente, que a legalidade dos contratos de locação de imóveis sob modelo built to suit já fora reconhecida pelo TCU, a exemplo dos Acórdãos 1301/2013-Plenário e 1928/2021-Plenário. Em reforço, assinalou que o procedimento em tela possui amparo na interpretação sistemática do ordenamento jurídico aplicável à espécie, com destaque para os seguintes dispositivos: art. 47-A da Lei 12.462/2011 (“locações no modelo built to suit na Administração Pública, vigente até 30/12/2023, nos termos do art. 191 c/c art. 193, inciso II, da Lei 14.133/2021”), art. 51 da Lei 14.133/2021 (“locação de bens imóveis na nova Lei de Licitações”) e art. 54-A da Lei 8.245/1991 (“locações no modelo built to suit no âmbito privado, aplicável aos contratos administrativos, por analogia, nos termos do art. 89 da Lei 14.133/2021, após a revogação do art. 47-A da Lei 12.462/2011, prevista no art. 193, inciso II, da Lei 14.133/2021”). Na sequência, chamou a atenção para a obrigatoriedade da reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato de locação built to suit quando se tratar de imóvel em terreno da União, justamente por envolver “construção ou reforma em próprio nacional”. Também frisou que a regra da licitação incide na espécie, não sendo cabível o seu enquadramento na hipótese de inexigibilidade prevista no art. 74, inciso V, da Lei 14.133/2021 (“aquisição ou locação de imóvel cujas características de instalações e de localização tornem necessária sua escolha”), isso porque, no caso em apreço, “a localização do imóvel já está decidida pela Administração, pois se trata de terreno ou imóvel próprio, cabendo selecionar junto ao mercado, entre vários potenciais licitantes, quem oferecerá a melhor proposta para a reforma ou construção destinada ao contrato de aluguel”. De acordo com o relator, essa dicção já fora acolhida na resposta à consulta objeto do mencionado Acórdão 1301/2013-TCU-Plenário, nos seguintes termos: “9.2. responder ao nobre Presidente do Conselho Superior da Justiça do Trabalho que, nos termos do art. 62, § 3º, I, da Lei nº 8.666/1993 c/c o art. 54-A da Lei nº 8.245/1991 (incluído pela Lei nº 12.744, de 19 de dezembro de 2012), a despeito de a realização de licitação dever ser a regra, admite-se excepcionalmente a contratação direta de locação sob medida (operação built to suit), por meio de licitação dispensável fundada no art. 24, inciso X, da Lei nº 8.666/1993, desde que, além da observância das demais disposições legais aplicáveis ao caso, o terreno onde será construído o imóvel seja de propriedade do particular que será o futuro locador.” (grifos no original). Ao final, quanto ao cerne da consulta, o relator propôs e o Plenário decidiu responder ao consulente que “existe amparo legal à utilização do modelo de locação sob medida, built to suit, em terrenos da União, sendo obrigatória a reversão do bem à Administração Pública ao final do contrato, hipótese em que se fazem necessários o procedimento licitatório, a concessão do direito de superfície ao eventual vencedor do certame e o atendimento às demais exigências dispostas no Acórdão 1.301/2013-TCU-Plenário”.

Acórdão 755/2023 Plenário, Consulta, Relator Ministro Antonio Anastasia.

 

Caros pregoeiros e licitantes, a melhor fonte de conhecimento sobre licitações se chama TCU - Tribunal de Contas da União. Leiam atentamente os acórdãos do TCU, pois eles trazem ensinamentos e recomendações importantíssimos, e tenham a certeza de estarem realizando um grande serviço à sociedade.

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COMENTARIO 1

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domingo, 17 de julho de 2022

Nas contratações diretas por inexigibilidade de licitação, o conceito de singularidade não pode ser confundido com a ideia de unicidade, exclusividade, ineditismo ou raridade.

Nas contratações diretas por inexigibilidade de licitação, o conceito de singularidade não pode ser confundido com a ideia de unicidade, exclusividade, ineditismo ou raridade. O fato de o objeto poder ser executado por outros profissionais ou empresas não impede a contratação direta amparada no art. 25, inciso II, da Lei 8.666/1993. A inexigibilidade, amparada nesse dispositivo legal, decorre da impossibilidade de se fixar critérios objetivos de julgamento.

Relatório de inspeção realizada em decorrência de representação formulada ao TCU envolvendo possíveis irregularidades em contratações celebradas no âmbito das Centrais Elétricas Brasileiras S.A. (Eletrobras) apontou, entre outras “não-conformidades”, a contratação direta por inexigibilidade de licitação, “sem demonstração regular e prévia de requisito legalmente previsto”, dos membros da Comissão Independente de Gestão da Investigação (Cigi), criada, mediante deliberação do Conselho de Administração da entidade, com o objetivo de apoiar tecnicamente o conselho nas investigações internas relacionadas com “atos e fatos apontados pela Operação Lava-Jato”. A unidade técnica concluiu que os procedimentos de seleção utilizados pela Eletrobras para a contratação dos membros da Cigi, por inexigibilidade de licitação fundada no art. 25, inciso II, da Lei 8.666/1993, não estariam de acordo com as normas que regem a matéria ou com as “melhores práticas de seleção de fornecedores”. Instado a se manifestar, o Ministério Público de Contas (MPTCU) também concluiu pela irregularidade da contratação direta, sob o argumento de que a relação de atribuições da Cigi não se amoldaria à existência de qualquer característica, requisito, competência ou particularidade que pudesse conferir ao objeto características singulares, na medida em que representaria tão somente um trabalho de supervisão e controle das investigações que seriam conduzidas. Nesse sentido, segundo o MPTCU, haveria inúmeros escritórios e firmas de consultoria que teriam condições de participar de processo licitatório para esse objeto. Em seu voto, o relator registrou sua discordância das instâncias precedentes. Ao tecer considerações quanto à legalidade do procedimento de inexigibilidade de licitação, o relator assinalou que a contratação direta com base no art. 25, inciso II, da Lei 8.666/1993 exige simultaneamente a demonstração dos seguintes requisitos: (i) que o objeto se inclua entre os serviços técnicos especializados previstos no art. 13 da mencionada lei; (ii) que tenha natureza singular; e (iii) que o contratado detenha notória especialização. Segundo ele, no caso em apreço, a notória especialização dos quatro membros da Cigi (ex-diretor da CVM, ex-ministra do STF, conselheiro fiscal da Eletrobras e professor livre-docente de controladoria e finanças do Programa de Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ) dispensava maiores digressões, por deterem inquestionável reputação e conhecimento nas áreas em que atuavam. Conforme o relator, o adequado acompanhamento das investigações no âmbito da estatal visando a apurar atos e fatos relacionados à Operação Lava Jato exigiriam conhecimento sobre mercado de capitais brasileiro e americano, legislação societária, legislação anticorrupção do Brasil e dos Estados Unidos e contabilidade, o que, para ele, parecia se amoldar aos perfis dos integrantes da Cigi. Adentrando no exame da singularidade do objeto, enfatizou que tal conceito não pode ser confundido com unicidade, exclusividade, ineditismo ou mesmo raridade, isso porque, “se fosse único ou inédito, seria caso de inexigibilidade por inviabilidade de competição, fulcrada no caput do art. 25, e não pela natureza singular do serviço”. Além disso, o fato de o objeto poder ser executado por outros profissionais ou empresas “não impede que exista a contratação amparada no art. 25, inciso II, da Lei 8.666/1993”. Afirmou ainda não concordar com a argumentação do MPTCU no sentido de que “a falsa aparência de singularidade do objeto decorreu, na verdade, da definição vaga e imprecisa dos serviços que seriam contratados”, não havendo falar assim, sob a ótica do Parquet, em “singularidade do objeto, que foi caracterizado basicamente por um trabalho de supervisão e controle das investigações que seriam conduzidas”. O relator ponderou que, em alguns tipos de contratação, deve ser observada a relação que existe entre a singularidade do objeto e a notória especialização, e que embora tal fato não possa ser tomado como regra geral, a singularidade do objeto muitas vezes decorre da própria notória especialização de seu executor. Para essa corrente doutrinária, frisou o relator, a notória especialização envolveria uma espécie de singularidade subjetiva, que estaria associada ao profissional que executa o objeto. Prosseguiu enfatizando que, em alguns tipos de objeto, a própria escolha dos contratados acaba dependendo de uma análise subjetiva, e que não poderia ser diferente, pois se a escolha pudesse ser calcada em elementos objetivos, a licitação não seria inviável. Seria ela impossível justamente porque há dificuldade de comparação objetiva entre as propostas, que estão atreladas aos profissionais que executarão os trabalhos. Destarte, “nesse tipo de objeto, resta caracterizada a discricionariedade na escolha do contratado”. A corroborar sua assertiva, o relator invocou o Acórdão 204/2005-TCU-Plenário, do qual julgou oportuno transcrever o seguinte excerto: “16. Verifica-se, então, do entendimento desse texto que o Administrador deve, na situação do inciso II do art. 25, escolher o mais adequado à satisfação do objeto. O legislador admitiu, no caso, a existência de outros menos adequados, e colocou, portanto, sob o poder discricionário do Administrador a escolha do contratado, sob a devida e indispensável motivação, inclusive quanto ao preço, ao prazo e, principalmente, o aspecto do interesse público, que deverá estar acima de qualquer outra razão.”. Essa seria, a seu ver, a melhor interpretação da Súmula TCU 264, a de que a contratação de serviços por notória especialização somente é cabível quando se tratar de serviço de natureza singular, capaz de exigir, na seleção do executor de confiança, grau de subjetividade insuscetível de ser medido pelos critérios objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação. Nesse contexto, observou que os integrantes da Cigi não se limitaram a prestar meros serviços de supervisão e acompanhamento das investigações em curso na Eletrobras, mas emprestaram os seus nomes, sua reputação, para que os resultados alcançados fossem considerados isentos, imparciais e independentes, de forma a obter a aceitação dos órgãos reguladores e dos agentes de mercado. Embora isso não necessariamente tornasse os contratados da Cigi prestadores de serviço exclusivos, “não se pode olvidar que justifica sua contratação, caso presentes os requisitos exigidos para o enquadramento da contratação no inciso II do art. 25 da Lei 8.666/1993”. Ademais, salientou que a impossibilidade de se fixar critérios objetivos de julgamento, aliada à discricionariedade do gestor na escolha dos profissionais a serem contratados, não autoriza a Administração a efetuar escolhas arbitrárias ou inadequadas à satisfação do interesse público. E arrematou: “A seleção deverá observar os critérios de notoriedade e especialização, sendo devidamente fundamentada no processo de contratação.”. Assim sendo, o relator concluiu pela caracterização da singularidade do objeto em tela e que a escolha dos contratados fora devidamente motivada, no que foi acompanhado pelos demais ministros.

Acórdão 1397/2022 Plenário, Representação, Relator Ministro Benjamin Zymler.

INFORMATIVO LICITAÇÃO E CONTRATO - TCU - Número 439

Sessões: 14, 15, 21 e 22 de junho de 2022

Número 439

Sessões: 14, 15, 21 e 22 de junho de 2022

domingo, 12 de setembro de 2021

DISPENSA DE LICITAÇÃO E INEXIGIBILIDADE poderão ser realizadas para REGISTRO DE PREÇOS

 

NOVIDADES DA LEI 14.133/21

Você pode fazer uma dispensa de licitações ou inexigibilidade para REGISTRO DE PREÇOS, com direito a participação de outros órgãos e, por que não, com direito ao Carona, tudo isso  com base no Art. 6º, inciso XLVI e §6º do Art. 82. Vejamos:

Art. 6º - Para os fins desta Lei, consideram-se:

...............................................................................................................................................................................................................................................

XLVI - ata de registro de preços: documento vinculativo e obrigacional, com característica de compromisso para futura contratação, no qual são registrados o objeto, os preços, os fornecedores, os órgãos participantes e as condições a serem praticadas, conforme as disposições contidas no edital da licitação, no aviso ou instrumento de contratação direta e nas propostas apresentadas; (Grifei).

 

Do Sistema de Registro de Preços

Art. 82. O edital de licitação para registro de preços observará as regras gerais desta Lei e deverá dispor sobre:

.............................................................................................................................................

§ 6º O sistema de registro de preços poderá, na forma de regulamento, ser utilizado nas hipóteses de inexigibilidade e de dispensa de licitação para a aquisição de bens ou para a contratação de serviços por mais de um órgão ou entidade.

Mas, cuidado. Este Artigo precisa ser REGULAMENTADO!!!